sexta-feira, 8 de março de 2013

Resenha: Kate Nash - Girl Talk



Se você está conhecendo Kate Nash apenas agora em Girl Talk (o que acho muito improvável) terá talvez uma dificuldade em entender a análise feita com relação à diferença para os seus trabalhos anteriores. Mas, se você já conhecia a moça da época na qual ela cantava Foundations, Do-Wah-Doo e The Nicest Thing, vai facilmente notar que Kate não é a mais a doce garota de vestido colorido e músicas fofas. Agora, com seu cabelo com mechas, voz raivosa, e baixo pichado com caneta e lotado de adesivos, Kate aparece como um típica Riot Grrl, digna de Vivian Girls e Dum Dum Girls.

A “nova” Kate parece uma garota passando pelos momentos mais conturbados e conflitantes de sua vida: a adolescência. Mudanças físicas e hormonais, alteração de comportamento e personalidade, entrada na vida adulta, primeiros romances, primeiras responsabilidades, tudo isso sendo passado para um diário que varia entre páginas rabiscadas com ódio e raiva e outras com corações e colagem de fotos do garoto da escola e das amigas. O momento de rebeldia começa a florescer. A(O) garota(o) ganha sua primeira guitarra - no caso de Kate um baixo - e começa a colocar todos os seus conflitos e amores em forma de som. Entretanto, visto que sua mente é um completo mix de sentimentos, o resultado são faixas heterogêneas. Para Kate Nash notamos claramente isso em seu novo disco ao observarmos músicas dessa “nova fase”, que são mais densas e raivosas, mas também com presença de outras faixas que nos remetem ao seu passado fofo e colorido.

Dessa nova fase observamos faixas como Death Proof, Sister, All Talk, Rap For Rejection, que passam além de um instrumental sujo e pesado, letras que expressam o mesmo sentimento da música com temáticas de ódio, raiva, indignação, repúdio e conflitos. Na última citada a letra aparece com uma mensagem anti-sexismo ao dizer, em tradução literal, “Você me acha feia/Yeah, conte para seus amigos/Como você nunca transou comigo/Você tá tentando me dizer que sexismo não existe?/Se isso não existe, então que porra é essa?”. Esse lado feminista/Riot Grrl fica ainda mais claro e explícito em  I'm A Feminist You're Still A Whore, mas essa faixa ficou de fora do álbum.

Como dito, Kate Nash ainda está com um pé de converse sujo e com um pé de sandália Melissa no outro, mesma que às vezes com uma pontinha de terra nela. Sua dose de Indie Pop cute ainda aparece em Girl Talk, seja em OMYGOD! onde ela diz sobre sentir saudades de um garoto, em You're So Cool, I'm So Freaky, onde se coloca rebaixada perante o garoto legal sendo ela estranha, e em  3A.M onde faz uma declaração meiguinha dizendo “"Eu quero seguir em frente mas estou com medo/Sofro de ansiedade/Eu não quero ficar sozinha!/Você, eu quero ficar com/Você". O álbum termina com Lullaby For A Insomaniac, faixa a capela e com letra e melodia bem intimista e que ganha instrumental epopéico e clássico ao final, dando um fechamento extremamente lindo ao disco. As interpretações desse final podem ser várias, uma delas pode ser a de um nascimento, de um surgimento de algo novo.  

Mesmo já com seus 25 anos, Kate Nash se apresenta nessa sua nova fase como uma garota de 15 vivendo seus conflitos internos e exteriorizando-os da forma que encontrou no caso a música. Sabemos que Kate não está passando por conflitos existenciais da adolescência, claro que não. Entretanto a cantora está passando por um momento de transição em sua carreira, na qual, aparentemente, está se desligando do som doce e angelical de seus trabalhos anteriores e está mergulhando em algo mais encorpado e denso. Agora nos resta esperar Kate “chegar aos seus 18 ou 20 anos” para vermos qual caminho ela tomou para si.

NOTA: 3,5/5,0


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