Se você está conhecendo Kate Nash apenas agora em Girl Talk
(o que acho muito improvável) terá talvez uma dificuldade em entender a
análise feita com relação à diferença para os seus trabalhos anteriores. Mas,
se você já conhecia a moça da época na qual ela cantava Foundations, Do-Wah-Doo
e The Nicest Thing, vai facilmente notar que Kate não é a mais a doce
garota de vestido colorido e músicas fofas. Agora, com seu cabelo com mechas,
voz raivosa, e baixo pichado com caneta e lotado de adesivos, Kate aparece como
um típica Riot Grrl, digna de Vivian Girls e Dum Dum Girls.
A “nova” Kate parece uma garota passando pelos momentos mais conturbados
e conflitantes de sua vida: a adolescência. Mudanças físicas e hormonais,
alteração de comportamento e personalidade, entrada na vida adulta, primeiros
romances, primeiras responsabilidades, tudo isso sendo passado para um diário
que varia entre páginas rabiscadas com ódio e raiva e outras com corações e
colagem de fotos do garoto da escola e das amigas. O momento de rebeldia começa
a florescer. A(O) garota(o) ganha sua primeira guitarra - no caso de Kate um
baixo - e começa a colocar todos os seus conflitos e amores em forma de som.
Entretanto, visto que sua mente é um completo mix de sentimentos, o resultado
são faixas heterogêneas. Para Kate Nash notamos claramente isso em seu novo
disco ao observarmos músicas dessa “nova fase”, que são mais densas e raivosas,
mas também com presença de outras faixas que nos remetem ao seu passado fofo e
colorido.
Dessa nova fase observamos faixas como Death Proof, Sister,
All Talk, Rap For Rejection, que passam além de um instrumental
sujo e pesado, letras que expressam o mesmo sentimento da música com temáticas
de ódio, raiva, indignação, repúdio e conflitos. Na última citada a letra
aparece com uma mensagem anti-sexismo ao dizer, em tradução literal, “Você
me acha feia/Yeah, conte para seus amigos/Como você nunca transou comigo/Você
tá tentando me dizer que sexismo não existe?/Se isso não existe, então que
porra é essa?”. Esse lado feminista/Riot Grrl fica ainda mais claro e explícito
em I'm A Feminist You're Still A Whore, mas essa faixa ficou de
fora do álbum.
Como dito, Kate Nash ainda está com um pé de converse sujo e com um pé
de sandália Melissa no outro, mesma que às vezes com uma pontinha de terra
nela. Sua dose de Indie Pop cute
ainda aparece em Girl Talk, seja em OMYGOD! onde ela diz sobre
sentir saudades de um garoto, em You're So Cool, I'm So Freaky, onde se
coloca rebaixada perante o garoto legal sendo ela estranha, e em 3A.M
onde faz uma declaração meiguinha dizendo “"Eu quero seguir em frente mas
estou com medo/Sofro de ansiedade/Eu não quero ficar sozinha!/Você, eu quero
ficar com/Você". O álbum termina com Lullaby For A Insomaniac,
faixa a capela e com letra e melodia bem intimista e que ganha instrumental
epopéico e clássico ao final, dando um fechamento extremamente lindo ao disco.
As interpretações desse final podem ser várias, uma delas pode ser a de um
nascimento, de um surgimento de algo novo.
Mesmo já com seus 25 anos, Kate Nash se apresenta nessa sua nova fase como
uma garota de 15 vivendo seus conflitos internos e exteriorizando-os da forma
que encontrou no caso a música. Sabemos que Kate não está passando por
conflitos existenciais da adolescência, claro que não. Entretanto a cantora
está passando por um momento de transição em sua carreira, na qual,
aparentemente, está se desligando do som doce e angelical de seus trabalhos
anteriores e está mergulhando em algo mais encorpado e denso. Agora nos resta
esperar Kate “chegar aos seus 18 ou 20 anos” para vermos qual caminho ela tomou
para si.
Nenhum comentário:
Postar um comentário