terça-feira, 12 de novembro de 2013

Vivemos alguma cena?



Hoje em dia tudo é "globalizado", "multifaces" e "integrado". E muito disso é dito com relação ao mundo musical atual, que desde os anos 2000 é colocado como uma cena formada por todas as outras que já apareceram. 

Mas será que isso é verdade? Ou será que esse "tudo" resulta num nada, em algo que por ser de tudo um pouco acaba resultando em algo sem identidade, vazio e nulo?

Faça um exercício. Mentalize uma década e pense quem quais expressões artísticas ilustravam-na. Por exemplo, anos 60 tínhamos o movimento hippie, a Pop Art e a psicodelia. Nos anos 50 tínhamos o Expressionismo Abstrato, o Concretismo e o Rockabilly. Tais são ícones que marcaram e fizeram o plano de fundo dessas décadas e da geração que as viveram. Entretanto, se pensarmos nos anos 2000 as associações não são imediatas, ou nos remetem à coisas passadas e já vividas.

Se cairmos para o lado da música podemos observar isso ainda mais facilmente. Do início dos anos 2000 para cá, surgiram bandas que foram tidas como representantes dessa nova geração, mas que na verdade estavam num movimento de resgate de cultura e não numa nova proposta. São os revivals, como o do Post-Punk com bandas como Interpol, The National e White Lies; do Rock Psicodélico, com of Montreal, Tame Impala e Pond; da Disco Music, com Breakbot, Cut Copy e Flight Facilities , entre outros revivais. 

Porém, alguns irão dizer: "Ah, mas e o Indie Rock?" Pois bem, o "Indie" não é de hoje, e nem o de hoje. O termo "indie" vem de "independent", ou seja, de bandas que lançaram de maneira independente seu material, sem precisar ter vínculo com as grandes gravadoras, que oprimiam o processo criativo dos artistas. Tais bandas, princialmente dos Reino Unido,  acabaram por fazer um som relativamente parecido em sua época - do meio para o final dos anos 80 - e então ficaram conhecidas como Indie Rock e Indie Pop. Desse modo, o que temos hoje não é (com algumas exceções) Indie no sentido de independente, visto que muitas bandas são assinadas com gravadoras como Warner, Sony, Universal, RCA, entre outras.

Ok, estou sendo chato demais me apegando ao termo indie como independente. Concordo, mas o som também não é nem um pouco novo, visto que se espelham em artistas daquela época, como The Smiths, The Pastels, Primal Scream entre outras.  Para saber mais sobre essa história toda de independência ,veja esse post de alguns meses atrás.

Dizer que a música está estagnada é um total erro. O que podemos dizer é que ela não está mais icônica como já foi anteriormente e que se transformara em um retrato de uma geração. Hoje temos o plural, algo meio sem rosto, ou melhor, um rosto com partes de outros rostos. Entretanto, o paradoxal  é que mesmo com um resultado misto, vindo de fusões de estilos e tendências artísticas, o que gera algo como uma colcha de retalhos e que poderia não simbolizar uma geração una, temos hoje uma juventude multifacetada, que veste, ouve, consome e produz diferentes materiais e de diferentes origens históricas culturais.

Dito tudo isso, o que podemos perceber é que esse novo modelo artístico/cultural esquizofrênico, ironicamente acaba se tornando um ícone da juventude atual, que se comporta do mesmo jeito, e tende a cada vez mais agregar fragmentos de todos os cantos e gostos para compor a si mesma. Isso é ruim? Isso é bom? Acredito que nem um nem outro, apenas algo que tende a ser um novo modelo de consumo de mídia e de cultura, e querendo ou não, os revivais acabam trazendo muitas coisas boas, e sempre temos uns nichos produzindo novidades (como Glitch Music, Witch House e Vaporwave).

Ou seja, não, não vivemos uma cena única. Alguns nichos acabam vivendo exclusivamente sua cena, mas no geral, vivemos fragmentos de várias cenas passadas e temos novas produções inovativas e criativas. E o resultado de tudo isso são boas bandas bebendo do melhor do passado e sabendo reescrever tais modelos, e outras, de maneira criativa, criando estilos interessantes. Seria interessante termos um cena icônica, mas visto as boas produções,  até que não há um mal em que continuarmos assim. 

Um comentário:

  1. Gosto do material da atual cena musical, de verdade, só que o fato de num ter nada pra chutar o balde, nenhuma banda memoravel deixa tudo meio sem sal, há várias cenas que antecedem a nossa que são reaproveitamentos do antigo, o grunge é o maior exemplo do que eu tou falando, mas o que eu sinto é que nossa cena atual num tem força, penso o que vai ser lembrado na musica nessa decada e não vejo nada, é como se vivecemos no branco.

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